Cinco revólveres calibre 38 foram parar na mão da bandidagem após criminosos invadirem unidades escolares de Itajaí para roubar as armas usadas pelos vigilantes armados da empresa de segurança Orbenk.

O serviço, que custa R$ 11,1 milhões aos cofres públicos em um contrato de 12 meses, foi implantado em 7 de julho de 2023, logo após o atentado com quatro mortes em uma creche de Blumenau.

A resposta rápida dada pela prefeitura de Itajaí colocou 245 vigilantes armados nas 118 unidades escolares de Itajaí. A ineficiência do serviço começou a ser exposta em outubro do ano passado, quando ocorreu o primeiro assalto na unidade escolar do bairro Espinheiros, para o roubo da arma usada pela vigilante. Nos 11 meses de serviços foram três assaltos e dois furtos de revólveres em unidades escolares.

O problema se agravou nesta semana, quando um bandido invadiu uma creche da Barra do Rio. O roubo foi registrado por volta das 15h da última segunda-feira na creche Lea Leal de Souza, na rua Curt Hering. O bandido partiu para cima da vigilante para roubar a arma e os dois chegaram a lutar, até que ele arrancou o revólver da profissional e chegou a disparar contra ela.

Por sorte, ninguém ficou ferido, mas o episódio escancarou a falta de treinamento adequado dos vigilantes para agir em caso de roubo e também o fato das escolas terem virado alvo de criminosos que querem ter acesso às armas.

Denúncia ao MP

Preocupado com a situação, o Instituto Movimento Humaniza SC, que tem como presidente a ex-senadora Ideli Salvatti (PT), entrou com um procedimento chamado “notícia de fato” no Ministério Público de Itajaí pedindo o fim da guarda armada nas escolas e a investigação dos serviços prestados.

“Esta contratação ocorreu em virtude do atentado de Blumenau [...]. Sem qualquer tipo de planejamento, estudo ou debate público, o município de Itajaí alegou que tal medida traria mais segurança e tranquilidade”, lembra a ex-senadora.

“Ocorre que tal medida está tendo o resultado oposto, trazendo mais insegurança e terror para as unidades escolares de Itajaí.  Além de se questionar a péssima qualidade do serviço prestado pela empresa contratada Orbenk, há de ser avaliado o fracasso da política pública da Vigilância Escolar Armada”, completa Ideli.

Instituto pede fim da vigilância armada nas escolas

No documento enviado ao MP, o instituto Humaniza SC pede que o órgão receba a “notícia de fato” e investigue o município e a empresa Orbenk. Também requer que seja interrompido o uso de armas por vigilantes, além de proibir o armazenamento das armas nas escolas.

O pedido de investigação foi protocolado na terça-feira e deve ser enviado à promotoria de Itajaí nos próximos dias. “O Instituto Humaniza protocolou junto ao Ministério Público para que as providências fossem tomadas, para que dentro do ambiente escolar não haja nenhuma hipótese de pessoas armadas. Também temos a informação que, inclusive, parece que guardam as armas dentro da unidade escolar. Eu tenho também a convicção de que isso não acontece só em Itajaí. Muito provavelmente isso está acontecendo em vários outros municípios, num grande risco para as crianças, para os professores e para os funcionários. Mais livros, menos armas, é disso que a gente precisa”, argumenta Ideli.

A representação cita o último crime na creche da Barra do Rio. “Ter armas dentro de escolas é algo extremamente grave e perigoso. O episódio na creche em Itajaí poderia ter desencadeado alguém ferido, alguma criança morta, um professor, um funcionário da creche e para nós isso é inadmissível”, destaca a presidente do Humaniza SC.

Na denúncia ao MP, o Instituto também cita os outros dois assaltos a vigilantes. No dia 9 de abril deste ano, uma vigilante teve a arma roubada no estacionamento da creche Maria Regina Coppi Vicente, no Cidade Nova. Já no dia 30 de outubro de 2023, a vigilante da escola José Potter, no Espinheiros, teve a arma roubada no final do seu expediente, após um homem pular o muro do colégio. “Além destes incidentes, o próprio município de Itajaí admite que mais duas armas foram furtadas em escolas e creches do município. Ou seja, foram cinco armas subtraídas da empresa Orbenk nos últimos 11 meses, dentro das escolas de Itajaí”, explica Ideli Salvatti na denúncia enviada ao MP.

Reunião define novos treinamentos com guardas

Em nota, o grupo Orbenk informou que as cinco armas roubadas das escolas de Itajaí eram calibre 38. A empresa ainda alegou que todos os profissionais têm formação, passam por frequentes exames e a cada seis meses recebem treinamentos e reciclagens. Entretanto, após reunião com a Secretaria de Educação de Itajaí, na tarde desta terça-feira, os 245 vigilantes armados receberão um novo treinamento nos próximos dias. A capacitação faz parte das medidas solicitadas pela secretaria para evitar novos roubos de arma de fogo.

Metade do efetivo de vigilantes armados participará da capacitação neste sábado e a outra parte no dia 18 de maio. Os encontros vão ocorrer das 9h às 12h, no auditório superior da Secretaria de Educação de Itajaí.

Outra medida que vem sendo tomada pela secretaria é o aumento dos muros e grades das escolas e creches, com investimento de R$ 1,4 milhão. Já são 73 escolas com muros e gradis acima dos 2,4 metros. Em até 45 dias as unidades escolares de Itajaí também terão as melhorias finalizadas. Ainda segundo a secretaria, todas as escolas ainda têm travas e/ou portões eletrônicos, além de câmeras de segurança.