Sarkis e Gertrudes conversavam sobre coisas que somos e como demonstramos nossas crenças no dia a dia. Chegaram facilmente ao consenso de que nossa natureza começa pelo fato de se acreditar. É o primeiro passo. Sarkis falava que crer é fundamento singular do ser humano. Mesmo aqueles que se consideram ateus, precisam acreditar que Deus não existe. Gertrudes dizia que temos pelo menos três coisas que não podemos não ser. Uma delas é viver em grupo e compartilhar o modo de vida, valores, recursos, regras de convivência. Vivemos em nome do grupo... Outra delas é que, por viver em sociedade, precisamos falar uns com os outros, nos expressar para os outros. A comunicação é o fundamento de partilha social, e se torna estratégica para as conquistas ou as derrocadas. E, por fim, como vivemos em grupo e falamos uns com os outros, é preciso acreditar no que nos rodeia. Criamos as condições de crença em todos os momentos.
O sistema de crenças varia com o passar dos tempos, com as morfologias dos grupos e com os conteúdos das comunicações. Gertrudes lembrava que até os idos dos anos de 1970, Deus era o Criador e fazia com que cada um dos fiéis. Cada qual, ao revelar sua crença espiritual, se colocava como criatura diante de um Deus único para todos. Agora, nos tempos atuais, parece que cada um cria o Deus que mais se aproxima de si, que possa lhe defender de suas próprias angústias e que, por vezes, possa mesmo ser imaginado como um vingador na tal da “justiça divina”. Aí a justiça e o justiceiro são costurados pelo humano e não pelo Ser Supremo. Deus se submeteria às vontades do indivíduo. Uma inversão completa!
Sarkis concluía que Deus só poderia ser a manifestação do bem entre as pessoas. Um certo campo de forças cujo conteúdo seria o desejo que o bem pudesse prevalecer e orientar o que deveria ...
O sistema de crenças varia com o passar dos tempos, com as morfologias dos grupos e com os conteúdos das comunicações. Gertrudes lembrava que até os idos dos anos de 1970, Deus era o Criador e fazia com que cada um dos fiéis. Cada qual, ao revelar sua crença espiritual, se colocava como criatura diante de um Deus único para todos. Agora, nos tempos atuais, parece que cada um cria o Deus que mais se aproxima de si, que possa lhe defender de suas próprias angústias e que, por vezes, possa mesmo ser imaginado como um vingador na tal da “justiça divina”. Aí a justiça e o justiceiro são costurados pelo humano e não pelo Ser Supremo. Deus se submeteria às vontades do indivíduo. Uma inversão completa!
Sarkis concluía que Deus só poderia ser a manifestação do bem entre as pessoas. Um certo campo de forças cujo conteúdo seria o desejo que o bem pudesse prevalecer e orientar o que deveria ser feito pelos humanos. Essa força nasce na vontade de felicidade para si e para os outros, de compreensão do diferente, da possibilidade de se estar errado e aprender com os erros. A benevolência é o passo anterior ao diálogo, ao respeito. Para cada desejo venturo ao outro, estaria ali Deus. Ele seria o condutor e a referência dos fortúnios e desejos bons. Vingança, agressividade e violência não poderiam contemplar as condições dos homens e mulheres de manifestarem orientações, preceitos, moralidades, parâmetros divinos.
Mas, por que a maldade poderia se manifestar com tanta frequência e indolência? A resposta pode variar de muitas maneiras. O principal argumento de Gertrudes é que Deus é uma manifestação das e nas relações humanas. Deus Bondade está fora para orientar as interações sociais e está dentro de cada um como forma de pensar, agir e sentir. Deus Bondade é um senso pragmático, prático e, ao mesmo tempo, anterior aos humanos. Como força, circula a vida em todos os lugares e tempos. Como conteúdo que se ajusta para a vida em grupo, Deus Bondade é o contrário do humano egoísta, prepotente, vaidoso.
Gertrudes e Sarkis se abraçaram em sumo de Bondade. E tudo pareceu mais simples. Não é possível que cada um possa ter o “seu” Deus, posto que, como Ser Superior, Ele estará antes do indivíduo e durante as manifestações de cada pessoa em seu grupo. O Bem se faz como crença que o ser humano é bom, ainda que experiências contrárias sejam abundantes. Para vivermos em grupo e falarmos uns com os outros, não podemos acordar duvidando de tudo, de todos e se imaginando superior a qualquer um ou a qualquer coisa. A bondade e a paz são coisas simples! Gertrudes e Sarkis brindaram um café!
* Mestre em Sociologia Política